No espaço,
numa estação espacial, existe gravidade?
Quando um
carro está acelerado?
Depois que Galileu começou a
trazer os experimentos para a Física, o mundo do conhecimento começou a se
revolucionar. Não só pelos aprimoramentos técnicos, mas pelas mudanças na forma
de pensar. Mas os cientistas iriam travar uma batalha muito grande não só
contra a Igreja, que perseguia fortemente os que escreviam tratados que
pareciam contrariar as Escrituras, mas também contra todos que estavam firmemente
convictos de que as ideias de Aristóteles eram inquestionáveis.
Foi provavelmente com Isaac Newton
(1642-1727) que a ciência conseguiu conquistar seu espaço definitivamente.
Ainda assim, o caminho para ela se popularizar seria longo. Conta a lenda que a
descoberta mais importante de Newton foi por causa de uma maçã que caiu sobre
sua cabeça. Verdadeira ou falsa esta história, foi com Newton que começamos a
entender melhor os mecanismos dos movimentos dos corpos terrestres e dos corpos
celestes.
Em nossa época, o homem foi ao espaço, mas ele continua sendo o maior
mistério para a maior parte das pessoas. As antigas esferas celestes que
limitavam o mundo e que, de uma certa forma representavam uma proteção para o
Homem, tornaram-se, como defendia o padre Giordano Bruno, queimado vivo pela
Inquisição, um universo infinito e tremendamente vazio. Afinal, como é a
sensação de estar no espaço? Será que ali existe gravidade?
Para entender melhor isso, vamos
por os pés no chão e responder a uma questão mais próxima de nós: quando um
carro acelera? Pode não parecer, mas estas duas perguntas estão muito
relacionadas entre si. Vamos entender isso através das primeiras três leis que
Isaac Newton criou para explicar a mecânica do mundo segundo seu ponto de vista.
De lá pra cá aprendemos mais coisas sobre o universo, mas, por enquanto, vamos
ver a concepção de mundo na época newtoniana.
Vamos reescrever as primeiras e famosas leis deste grande cientista do
nosso modo para tentar compreendê-las melhor.
Inércia e aceleração
1.a LEI DE NEWTON: INÉRCIA
“todo corpo
parado tende a continuar parado para sempre, a menos que alguma força (ou
algumas forças) faça-o (façam-no) entrar em movimento. Todo corpo em movimento
tende a continuar em movimento para sempre, em linha reta e com a mesma velocidade,
a menos que alguma força (ou algumas forças) altere (alterem) seu movimento”.
Esta primeira lei é importante por descrever o que se espera de um corpo parado e de um corpo em movimento. Ela
não dita o que vai acontecer a um
corpo, mas o que deveria acontecer.
Um carro a 80Km/h em uma estrada plana e reta, que não faz curvas nem para
direita nem para a esquerda, nem para cima nem para baixo deveria continuar
nesta velocidade de 80km/h mesmo que o combustível acabasse ou que o pneu
furasse. Mas ele não continua. A primeira lei de Newton nos diz que se ele não
continuou segundo o que era esperado, isto revela que alguma força (ou mais de
uma) atuou sobre ele para alterar seu movimento.
Do mesmo modo um carro em uma estrada, quando chega em uma curva, deveria
continuar reto. Se ele não continua segundo o que é esperado é sinal de houve
força (ou forças) agindo sobre ele para que ele saísse de seu movimento
retilíneo e fizesse a curva.
Também um carro parado deveria ficar parado para sempre, mas ao abrir o
semáforo ele sai do lugar. O fato dele não agir segundo o que é esperado revela
que forças agiram sobre ele. A grande relevância desta primeira lei é que ela
define quando há aceleração. Na realidade, Newton mostrou que a aceleração é o
oposto da inércia.
Ou seja, para um corpo parado acelerar significa entrar em movimento.
Isto está de acordo com o que nós vivemos no nosso dia-a-dia. Dizemos que um
carro parado acelerou quando saiu do lugar. Foi necessário fazer um esforço
para isso, foi necessária a aplicação de uma força. Já para um corpo em
movimento acelerar significa sair da reta ou mudar de velocidade. Ou os dois ao
mesmo tempo. Para fazer o movimento mudar é preciso um esforço.
Mas o que é mais estranho a nós é que o carro pode acelerar sem mudar a
velocidade. Como isso pode ser? Ora, não é só a mudança no valor da velocidade
que quebra a inércia. A inércia não é mantida se o corpo sair da linha reta.
Assim, se o carro fizer uma curva, mesmo que mínima, ele já acelerou. Isso
mesmo. Ele pode estar com a velocidade sempre igual a 80km/h, mas se fizer uma
curva, acelerou. Resumindo, um corpo acelera quando sua velocidade muda ou
quando ele faz curva.
Acelerar ou permanecer em inércia é algo que tem a ver com as forças que
agem no corpo, como veremos na segunda lei.
2.a LEI DE NEWTON: FORÇA RESULTANTE E A ACELERAÇÃO
“O resultado das forças que agem num corpo irão determinar se ele irá
acelerar ou não. O valor da aceleração pode ser calculado usando a fórmula:
Fr=m.a”.
Força resultante
Para um carro acelerar é preciso que uma força aja sobre ele. São as
forças que são feitas sobre um corpo que podem fazê-lo ganhar ou perder
velocidade. São as forças que podem fazer um corpo que está andando em linha
fazer uma curva. Quando fazemos um esforço podemos retirar um objeto do seu
lugar. Quando fazemos um esforço podemos parar um objeto que estava em
movimento ou desviá-lo. É nosso esforço que dá o impulso que ele precisa para
isso.
Mas às vezes não são suficientes para tal. Às vezes temos um corpo parado
e o empurramos, mas mesmo assim ele não ganha velocidade. Ele permanece no
mesmo lugar. Por que? O que está acontecendo? Será que as leis de Newton só
valem para forças grandes? A resposta é não.
O problema, como a teoria de Newton explica, é que é o resultado das
forças que conta. Como assim “resultado de forças”? Bem, a cada instante
estamos sujeitos a tantas forças que muitas vezes nem as percebemos. Mas elas
estão ali. Estamos sujeitos a muitas forças ao mesmo tempo. Precisamos calcular
o resultado delas para saber se iremos acelerar ou não. Muitas vezes uma
empurra para a direita e a outra empurra para a esquerda e o resultado é: nada.
Nossa vida é eterno cabo de guerra, às vezes ficamos inertes, mas às vezes
somos atirados para um lado ou para outro. Vamos recorrer à matemática
novamente. Veja um bloquinho de madeira de 2Kg (parado) em várias situações de
aplicação de forças. A primeira é de duas forças puxando para o mesmo lado, uma
de 30N e outra de 40N.
Neste caso acima, qual é o resultado das duas juntas? Como as duas puxam
(ou empurram) para o mesmo lado, uma ajuda a outra. O resultado é a soma das duas:
Fr = 30N + 40N. Isto dá um resultado de forças de 70N para a direita.
Mas a situação podia ser outra. :
Agora as duas forças são opostas. Uma atrapalha a outra. Então a força
maior tem que fazer força para vencer a outra. Neste caso, o resultado é a
diferença entre elas: Fr = 40N – 30N. Isto dá um resultado de 10N para a
direita. Obviamente, o resultado das forças sobre o primeiro bloco é maior que
sobre o segundo.
Mas ainda poderíamos ter uma outra situação: as forças podem ser mais do
que duas, e geralmente são. Consideremos uma força para a esquerda de 120N e as
duas, de 40N e 30N para a direita.
Neste caso, o resultado é definido olhando para onde tem mais força. Como
para a esquerda a força é de 120N e as duas forças para a direita (30N e 40N)
somadas chegam a 70N, então o resultado é para a esquerda. Mas um resultado de
quanto? Ora, para a direita temos 70N e para a esquerda 120N. Assim, temos Fr = 120N – 70N. Isto dá um resultado de 50N para a esquerda.
A esse resultado de força, chamamos força resultante. Um corpo só tem
aceleração quando o resultado de forças é diferente de zero e ele só mantém a
inércia se o resultado de forças é igual a zero. Então pensemos num bloco
parado que está sofrendo a ação de uma força de 70N para a esquerda e das
forças de 30N e 40N para a direita.
Neste caso, a força para a esquerda, de 70N, é exatamente igual ao
conjunto das duas que são aplicadas para a direita (30N e 40N). Acontece que,
na diferença entre elas, o resultado é zero. Fr = 70N – 70N = 0N. O bloco não
sai da inércia. Não há efeito nenhum.
Aceleração
Para calcular a aceleração de um corpo, Newton
afirmou que devemos usar uma fórmula: Fr = m . a. Nesta fórmula, Fr é o
resultado das forças, que calculamos como fizemos acima, m é a massa do
corpo,quantos Kg ele possui e a é a aceleração que ele vai ter. Bom, usando
assim esta fórmula podemos calcular a aceleração dos bloquinhos apresentados
acima já que sabemos qual é o resultado de forças em cada caso e sabemos que a
massa do bloco é 2Kg.
Situação 1: Fr
= 70N Fr
= m . a
m
= 2kg 70N = 2kg . a
70N / 2kg
= a
a
= 35 N/Kg
Situação 2: Fr
= 10N Fr
= m . a
m
= 2kg 10N = 2kg . a
10N / 2kg
= a
a
= 5 N/Kg
Situação 3: Fr
= 50N Fr
= m . a
m
= 2kg 50N = 2kg . a
50N / 2kg
= a
a
= 25 N/Kg
Situação 4: Fr
= 70N Fr
= m . a
m
= 2kg 0N = 2kg . a
0N / 2kg
= a
a
= 0 N/Kg
Do mesmo modo podemos calcular o valor da aceleração de qualquer corpo desde
que saibamos qual é a massa dele e quais as forças que atuam sobre ele.
Finalmente a gravidade
Agora podemos finalmente
responder a questão inicial. Podemos dizer que há uma força agindo sobre os
astronautas e sobre a estação espacial, pois ela está realizando um movimento
curvo em torno da Terra. Isso quer dizer que o movimento da estação é
acelerado. Mas para ser acelerado deve haver forças atuando sobre ela. A
gravidade é a principal destas forças uma vez que mantém a estação em órbita.
Senão, pela lei de Newton, se não houvesse força agindo aí, a estação se
moveria em linha reta, afastando-se da Terra gradativamente até desparecer na
escuridão do espaço.
Podemos por este raciocínio
imaginar a existência da gravidade. A maçã que está parada, presa à macieira
pelo cabinho, cai quando o cabinho se rompe. A maçã deveria cair? Não! Incrivelmente
pela lei da inércia, a maçã que está parada deveria continuar parada. Ela não
continua porque há uma força agindo sobre ela, puxando-a para baixo. Foi Newton
quem pela primeira vez associou explicitamente a queda dos corpos à ação de uma
força.
Mas que força é essa? Newton deu o nome a ela de gravidade. A mesma força
que puxa a maçã em direção à Terra é a força que puxa a lua e as estações
espaciais em direção à Terra. Porque a maçã cai e a Lua não? Porque a lua se
move em relação à Terra e a maçã está parada em relação a ela. Mas isso é uma
longa história...
O fato é que com as leis de
Newton, principalmente a terceira, que foi possível finalmente explicar o
fenômeno das marés.
3.a LEI DE NEWTON: SOBRE A AÇÃO E REAÇÃO
“A cada ação
de um corpo sobre um segundo corpo corresponde uma reação deste segundo corpo,
igual e contrária, sobre o primeiro corpo”.
Traduzindo: se a Terra faz uma
força gravitacional sobre a lua, a lua faz uma força gravitacional sobre a
Terra. De mesma intensidade. As marés são as águas da Terra atraídas pela força
gravitacional de nosso satélite natural e do sol também. Por isso as marés
seguem o movimento da lua e do sol. Outra hora falamos mais sobre a terceira
lei de Newton.
Muito legal... Entendi bacana e está muito bem escrito. Parabéns.
ResponderExcluirGostei inercia é o oposto de aceleraçao
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